♥ Boa tarde, pessoal! ♥
Ontem fez uma semana que as aulas
começaram. Eu gostei muito desse inÃcio, as disciplinas são bem interessantes,
algumas difÃceis, mas tem seu valor. Temo não me identificar com os estudos
clássicos, grego é realmente uma tormenta. Não é à toa que a expressão “tá
falando grego?” e suas variações existem. Estava a caminho do refeitório pós
aulas e vejo Monique. A mulher já havia entrado e eu ainda estava na fila.
Desde a festa, ela e o Ivan não
estão se falando. Pelo o que a Ju me contou, eles estão juntos desde o ano
passado. Eu prometi para mim mesma que não iria me forçar a nada,
principalmente amizades, porém eu senti que precisava conversar com ela. Mesmo
eu sabendo que ela pode me linchar. Peguei minha bandeja, me servi e procurei
por ela. Encontrei-a sozinha numa mesa e parei a sua frente. Sorri para ela
amigável, já seu olhar para mim foi o esperado. Desdém.
— Oi Monique. Eu posso almoçar com
você?
Seus olhos me encararam de cima a
baixo e ela deu de ombros, gesticulando para que eu sentasse. A sensação era a
mesma que tocar numa pedra de gelo, mas não liguei.
— E aÃ, como você está?
Começo a comer e ela ergue o olhar
para mim, ainda mastigando.
— O que você quer?
Franzo o cenho. — Só te fazer
companhia. Isso é um problema pra você? – respondo.
“Não esperava menos, nem sei
porque vim aqui.”. Ela me olha sem entender a princÃpio e fita sua bandeja.
— Não... não é.
Ficamos em silêncio por alguns minutos,
comendo, sem sequer trocar olhares. Assim que acabei, fui rever minhas tarefas
diárias no meu caderninho e riscar algumas já feitas.
— Por que você veio?
A voz dela me faz encará-la e vejo
que terminou de comer. Solto a caneta e sorrio para ela.
— Bem... Eu te vi entrar no RU e,
como estava sozinha, pensei que iria querer companhia.
— Não é por isso. Eu sei que não.
— Como assim, Monique?
Ela resmunga. — Você quer saber
sobre o Ivan.
— Na verdade... não. – falo
sincera. — Eu... só senti que precisava estar aqui. Se está te incomodando...
Guardo minhas coisas na bolsa e me
levanto. Assim que pego a bandeja, ela me para com a mão.
— Não, calma... – ela suspira. —
Pode ficar. É... – me sento outra vez. — Eu não esperava que você fosse falar
comigo, só isso.
— Por que?
— Porque você não gosta de mim.
Ergo as sobrancelhas. — Eu nunca
disse que não gosto de você. Admito que você não é flor que se cheire, mas não
tenho nada contra você.
É a vez de ela erguer as
sobrancelhas e sorrio de canto.
— Bem... você tem razão. Eu não
fui agradável contigo. – ela sorri sem mostrar os dentes e eu faço o mesmo. —
Desculpe minha grosseria.
“Eu ouvi isso mesmo? Ela está se
desculpando? Tem algo de errado acontecendo no universo.”.
— Eu te desculpo. Quer ir pra
outro lugar?
Ela assente e nós saÃmos de lá.
Caminhamos até o parque do campus, bem perto do refeitório, e sentamos no
primeiro banco vago que encontramos. O clima estava agradável, as árvores
refrescavam a nossa estadia, além das sombras gostosas. Algumas pessoas
caminhavam por ali, andavam de bicicleta, outras liam, aproveitando o som dos
pássaros cantando e as folhas farfalhando.
— Você tem quantos anos?
Ela puxou assunto! — 25. E você?
— Você parece ser mais nova. – ela
comenta e sorri. — Tenho 20. É sua primeira faculdade?
— É, eu ouço um pouco isso. – rio
de leve. — Não. Eu já sou formada em Jornalismo.
— Nossa. Corajosa. – Monique
sorri. — Não sei se eu quero fazer outra graduação. A faculdade me deixa louca.
Rimos juntas e a encaro por um
momento. Se eu dissesse isso para a Ju, ela não acreditaria. A Monique deu
risada comigo. Comigo! Realmente, algum fenômeno meteorológico absurdo vai
afetar o planeta. Ela não tinha sequer trocado palavras, quem dirá um perÃodo.
— Bem... Sempre foi um sonho, no
final das contas. Minha mãe sempre foi uma inspiração pra mim e... – engulo
seco, mal percebendo do que eu falava. — Ela foi professora. Não que eu queria
seguir a docência... – sorrio, mas sentia minha garganta apertar.
— Eu sou apaixonada por francês e
quis me formar. Meus avós vieram de Nice pra cá, ainda quero ir embora do
Brasil e morar lá. Ai... Queria tanto que isso tudo acabasse.
Monique fez um biquinho e ajeitou
os cabelos. Fito as árvores à nossa frente, me segurando para não transparecer qualquer
tristeza. Procurei, de imediato, meu maço de cigarro e isqueiro na bolsa. A
imagem de minha mãe me veio à mente e o ar parecia mais difÃcil de respirar.
— Eu... gosto muito do Ivan. – ela
afirma e ergo a sobrancelha, voltando a olhá-la. — Eu amo ele.
Seus olhos se enchem de água e ela
começa a chorar, tampando seu rosto. Fiquei completamente perplexa e deixei os
itens em cima do banco, até me esquecendo do sentimento que quase me dominou. Respirei
fundo, numa tentativa de focar em Monique.
— Calma... – suspiro, engolindo
saliva. — Quer conversar sobre isso? – toco seu ombro, afagando ali.
Monique soluça e seca o rosto
agora rubro.
— Ele não me entende, sabe? Não me
ouve. – ela funga. — Eu não gosto daqueles amigos babacas dele... Mas ele
insiste em andar com eles.
— Que amigos?
— O Geleia, o Bruto e o Kiko... Os
da engenharia. Foram eles que deram ingressos para nós. – ela suspira. — Ele e
o Geleia são amigos de infância... – ela fica em silêncio e seus olhos marejam
de novo. — Mas eles são uns idiotas. E a gente brigou o final de semana todo
por causa disso. Agora ele não quer falar comigo...
Ela chora alto e eu tento a
abraçar meio de lado. Monique se debruça em meu ombro e deixei que chorasse.
Fiquei um pouco preocupada com ela e surpresa com a minha intuição. Ivan sequer
citou isso pra mim. Na verdade, ele mal falou de Monique essa semana toda, vez
ou outra só, e isso porque eu e Ju não tivemos coragem de perguntar. Demorou
alguns minutos para ela se recompor e eu aguardei, acariciando suas costas.
Refleti como isso me fez falta, e
faz. Um ombro para chorar. Reconheço que eu não gosto de me expor numa situação
vulnerável assim, prefiro liberar meus sentimentos sozinha. Será que isso é
bom? Franzi a boca e respirei fundo. Ela se soltou de mim e secou o rosto com
as mãos, também abanando ali. Sorri de leve e guardei o cigarro e isqueiro na
bolsa.
— Você não precisa me contar se
não quiser... Mas saiba que você pode me ligar, mandar mensagens ou qualquer
coisa do tipo quando precisar.
— Obrigada, Samantha. Eu peço
desculpas... pelo o que já fiz com você. Eu... tenho um pouquinho de ciúmes do
Ivan e...
— Pouquinho? – sorrio e ela ri
envergonhada.
— Enfim... Achei que você fosse
dar em cima dele, mas já vi que não. Você é uma boa pessoa.
Monique se levanta e ajeita a
bolsa nas costas. Estende os braços para mim e sorri. Rio de leve e me levanto
para abraçá-la de volta.
— Obrigada. De verdade. Eu preciso
ir. Até mais.
Ela parte sem olhar para trás e eu me sento, a vendo ir embora. “Que coisa mais peculiar acabou de acontecer...”. Sorrio de canto e cruzo os braços, encarando as grandes e longas árvores acima de mim.
O elevador parecia ter parado no
tempo, que sorte a minha. Sua boca conseguia me fazer arrepiar facilmente, me
beijando o pescoço enquanto eu apertava sua cintura com força. Grunhi de prazer
e ouvi um risinho dela.
— Acho que chegamos, Fred.
Olho para a porta aberta do
elevador e sorrio de canto, saindo com a mulher. Tiro o molho de chaves do
bolso e sinto suas mãos me abraçarem por trás, tirando minha camiseta de dentro
da calça. Respiro fundo quando sinto suas unhas roçarem meu abdômen e apenas
abro a porta de minha casa, puxando Amanda para dentro.
Fecho a porta rapidamente e
pressiono o corpo da mulher ali, ouvindo um gemido baixo. Nos beijamos
novamente, vorazes. Sentia-me excitar depressa. Suas mãos me roçaram as costas debaixo
do tecido, o puxando para cima. Livrei-me da camiseta, jogando em qualquer
lugar e de imediato segurei suas pernas para que ela pulasse. O saltinho seguiu
ao abraço de suas pernas em meu quadril e a levei sem demora para meu quarto,
com as mãos espalmadas em suas nádegas ainda cobertas pelo short jeans.
Ela me beijava o pescoço outra
vez, mordia vez ou outra e estremeci, apertando sua bunda e tendo que liberar
uma mão para abrir a maçaneta. Quando abri a porta e passava pelo portal, ouvi
risadas vindo da cozinha e ergui a sobrancelha, ainda com Amanda em meus
braços. Adentrei o quarto, deitei a mulher na cama, beijei-a e ergui o corpo
nos separando.
— Se sinta à vontade, vou buscar
uns copos de água para nós.
— Claro.
Saà do quarto e fui direto Ã
cozinha, abrindo a porta do cômodo com certa força. A cena que vejo me faz
arregalar os olhos e me escondo parcialmente na parede. A menina estava agora
com o cabelo todo roxo e com nuances mais escuras. E... Samantha estava com
ela. “Não é possÃvel que a Verônica está fazendo o que eu tô pensando!”.
— Verônica?! O que faz aqui... com
Samantha? Não era para você estar na casa de sua avó?
Verônica franziu o cenho e
Samantha me olhava assustada, estática, com o rosto um pouco avermelhado. Ela
claramente não esperava me encontrar aqui, nem minha filha. E, digamos que o
sentimento foi recÃproco.
— Vovó precisou atender um
paciente e me deixou aqui mais cedo, pai. Hoje não é o dia que você só sai de
noite da faculdade?
— Eu consegui sair mais cedo,
mas...
— Desculpe, eu não deveria ter
vindo. Isso foi um erro, Vê.
Samantha nos interrompe e se
levanta, vejo seu rosto completamente corado e me escondo mais ainda atrás da
parede. Verônica para seu movimento segurando seu braço e faz um biquinho.
— Não precisa ir, Sam. Por favor,
acabei de fazer um lanche pra gente.
Samantha nega com a cabeça e passa
por nós, dando de cara com Amanda apenas de lingerie, inclusive, muito bonita. Todos
nós se assustamos pelo encontro e a ruiva me olha, engole seco e abre a porta
apressada, saindo sem demora. Apoio o corpo na parede e suspiro constrangido.
— Ué Fred, quem é essa? – a mulher
cruza os braços. — Achei que você fosse pegar água.
— Ninguém importante, Amanda. E...
eu tentei, mas...
— Ela é importante sim, pai. Minha
amiga! – Verônica fica entre nós e me olha enfezada. – E sua aluna, caramba. Eu
não tenho um momento de paz nessa casa, meu deus!
Ela sai pisando firme e entra em
seu quarto, batendo a porta com força. Respiro fundo e massageio as têmporas,
impaciente.
— Não sabia que você tinha uma
filha. – ela acaricia meu cabelo e fica me olhando.
— Desculpe Amanda, eu... Não vou
poder terminar o que começamos.
— Tudo bem.
A mulher se retira até meu quarto
e volta já vestida. — Precisa de carona de volta?
— Não, eu me viro. Até outro dia,
Fred.
Ela me dá um selinho e sai pela
porta. Fico alguns minutos tentando entender o que houve e franzo o cenho. “Ela
acha que é um cupido meu? Não é possÃvel...”. Nego com a cabeça e encaro a cozinha
por um instante, lembrando do incômodo de Samantha. Vou até o quarto de
Verônica e escoro no portal, cruzando os braços. A menina estava deitada em sua
cama, virada de costas para a porta. Via os potes de seus produtos de cabelo
espalhados pela sua penteadeira, além do tripé do celular posicionado. Ergui a
sobrancelha, tentando entender o que aconteceu aqui.
— Por que minha aluna estava na
minha casa?
— Isso não é normal nessa casa? Me
desculpe! – sua voz soou rÃspida.
Minha expressão se torna mais dura
e fecho os olhos.
— Não retruque, Verônica. Você
sabe muito bem o que te perguntei.
Ela resmunga e continua virada de
costas para mim.
— Eu convidei ela pra fazer um challenge pai. Foi só isso. Pintei o
cabelo dela e o meu e filmamos pro insta. Não chamei ela aqui por causa de
você.
— Não? – franzo o cenho.
— É claro que não! A Sam tá aqui
desde às 15h e daqui a pouco ia embora. Nem era pra vocês terem se topado.
Vou até sua cama e sento ali. Ouço
ela fungar e nego com a cabeça.
— Agora ela nunca mais vai querer
me ver. Você não consegue ficar sem sexo um dia? – ela se levanta e me olha
indignada, com seus olhinhos marejados.
Desvio seu olhar do meu e encaro o
chão, sem palavras.
— Você vai ligar pra ela agora e
vai pedir desculpas por ser um pervertido. Vai.
Sua voz saia um tanto esganiçada e
cruzo os braços, a olhando bravo.
— Eu não devo desculpas a ninguém,
Verônica. Ela veio na nossa casa porque quis. E eu não sou um perv...
— Mas a culpa é sua por vir trazer
qualquer uma pra cá! – ela me interrompe e me entrega seu celular com o número
da mulher na tela.
Respiro fundo, encaro ela, depois
o telefone e só então percebi que ela já havia discado o número. Quando fui
desligar a chamada, Samantha atendeu e resmunguei, encarando Verônica. Coloquei
o celular no ouvido depressa.
— Olha Vê, eu já tinha dito que
não era uma boa ideia ir até sua casa... E eu vejo seu pai sem camisa?! Sem
falar naquela mulher e...
— Samantha... – a interrompo.
Ela fica em completo silêncio e suspiro.
— Perdão. Não sabia que vocês
estavam em casa e...
— Você não precisa se desculpar.
Eu invadi seu espaço, sua casa, e prometo que nunca mais o farei. Tchau.
Ela fala rapidamente, como se não
tivesse respirado entre as palavras, encerra a ligação antes mesmo que eu
respondesse e mordisco o lábio. Entrego o aparelho para minha filha e dou de
ombros.
— Feliz?
Levanto de sua cama e Verônica
apenas se deita outra vez, sem nada dizer. Paro em sua porta, já fora do
quarto, e ouço ela desabar de chorar. Travo o maxilar, tenso, irritado e com
tesão acumulado. Inferno...
— Você o que?!
Fixo o olhar para o caminho de
casa e ajeito o cinto de segurança em meu corpo.
— Ai amiga, isso seria o sonho de
qualquer aluna dele e você correu? Eu pedia pra me juntar, isso sim.
Juliana acaba arrancando um
sorriso meu e nego.
— Pode ser o sonho de alguém, mas
não é o meu.
— E como ele é? Ele é todo sarado,
não é?
Assenti. — Sim. E foi extremamente
constrangedor, meu Deus.
Abaixo a cabeça, sentindo minhas
bochechas queimarem. Ju me levava para casa, já que eu precisava conversar
urgentemente com alguém e precisava de uma carona.
— É... depende.
— Claro que não, Ju. A filha dele
estava ali, meu próprio professor, sem camisa, junto com uma mulher seminua. É
constrangedor sim!
Ela faz uma careta e aperta o
volante. — Mas... se você sabia dos riscos, por que foi?
Ergo a sobrancelha e a encaro. Sua
pergunta me pegou desprevenida. Molho os lábios e franzo o cenho, sem saber
como responder.
— Verônica insistiu muito e...
bem, ela garantiu que ele não estaria lá. Confiei nela.
— E não foi isso que aconteceu.
— Só que ela também ficou
surpresa. Ela também não esperava que ele fosse chegar mais cedo.
— Compreendo. – ela ficou em
silêncio e voltei a olhar para a rua.
Logo chegamos até minha casa e
Juliana estaciona. Ela me olha por uns instantes e sorri largo.
— Não fica chateada amiga, pensa
que pelo menos seu cabelo tá maravilhoso e você viu a barriga sarada do
Frederico. Só tem coisa boa.
Ela ri e eu acabo rindo também. É
incrÃvel como ela consegue ver sempre o lado bom das situações. Abraço a mulher
e saio do carro.
— Obrigada pela carona, Ju. Salvou
minha vida.
— Imagina. Na próxima, quero ir
junto hein? – ela dá uma piscadinha e rimos juntas.
Entro em casa e já sinto Mione
roçando em minhas pernas, miando dengosa. Pego a gata no colo e vamos juntas. Depois
do que houve, nem contei para Ju sobre Monique... Que droga. Suspiro e deixo a
gatinha no chão. Pego um copo de água e bebo. Fiquei refletindo sobre o que
Juliana disse no carro e, na verdade, não sabia dizer que era só isso que
respondia à pergunta. Eu realmente confiei na menina, mas... no fundo, eu
queria vê-lo? Mordisquei o lábio. E, definitivamente, ele é bonito. Não vou
negar esse fato...
A imagem dele entrando na cozinha
ficava se repetindo em minha mente e sentia meu rosto corar. Seu desespero
também. Será que ele sabe de onde nos conhecemos? Porque... eu não faço ideia.
E isso é levemente irritante. Qual é o problema da minha memória? Deve ter sido
algo muito esporádico.
— Caramba... Hoje foi um dia
turbulento, Mione.
A gatinha mia de volta e sorrio, acariciando seu pelo enquanto come.