Boa noite, queridxs!
Nessa sexta-feira de eclipse lunar, de Lua de Sangue, venho postar mais um capítulo! Espero que gostem, que comentem, compartilhem para seus colegas, amores, amigos e até seus bichinhos, se desejar.
Dessa vez, há apenas uma palavra que seria do meu glossário de Harry Potter, então já a falarei aqui. Juro que não é um spoiler.
LUMOS: Lumos é um dos feitiços presentes no mundo da magia de Harry Potter. Acabei já o explicando na parte em questão, mas o farei aqui também. Ele projeta uma luz na ponta da varinha do bruxo, de forma que ilumina um ambiente como uma vela, uma lâmpada, etc.
Vamos ao texto! Boa leitura!
xxxx
III
Void
Antes de tudo, precisarei resumir
tudo o que aconteceu nesses últimos dias. Como você bem sabe, meu pai
desapareceu do mapa. Todos os dias alguma notícia sobre ele saia no jornal,
sobre esse Kulaj, em como as buscas iam. Era a mesmice completa. Não o achavam,
simplesmente. Kulaj... é um bruxo das trevas e tem causado alguns problemas –
assassinatos, se é que me entende – pelo continente à fora, e meu pai estava
seguindo seus rastros.
Todos achavam que esse cara deve
ter o matado. Não sei... Sinceramente não sei. Está tudo uma merda, para falar
a verdade. Elijah e a turma tem tentado me animar, Leah também. Eu estou
melhorando aos poucos, esquecendo o desaparecimento dele até o outro dia
chegar, com outro maldito jornal. A única coisa boa desses dias é que... Elijah
me apresentou uma ideia brilhante dele e quer que eu esteja ativamente
envolvido nisso: uma boate!
É, é isso mesmo. Pelo o que me
explicaram, querem construir uma boate onde as pessoas podem se amar
independente de sua raça, de seu sangue, de seus demônios. E isso tudo em
Evgéneia! Não dá nem para acreditar, é utópico, inspirador, maravilhoso.
Obviamente eu ajudei e ajudarei da forma que for preciso e, uma delas é...
vender cigarros na escola. Adorei isso, até porque... o cigarro tem sido meu conforto
nesses dias tenebrosos de incerteza e me deixa mais concentrado para por minhas
ideias no papel. Vender ilegalmente, se é isso que está pensando. Será apenas
um teste, se funcionar, usaremos o dinheiro para terminar a construção e
decoração do lugar.
Kailee me levou lá, as paredes já
estão erguidas em suas divisórias, o telhado também, mas ainda há muito
trabalho a fazer. Apenas adianto que, por Merlin, é enorme! Contaram que já
existe uma boate, mas, essa fica dentro do Ministério e para adultos. A nossa
boate, meus caros, é para adolescentes e jovens. Para chegar na do Ministério,
é preciso entrar num armário nos últimos andares daquele prédio enorme, numa
sala abandonada, em que a porta é aberta com uma senha que desconheço. A partir
daí, entra-se no armário de sequoia e sairá na boate. O nome dela é Saindo do
Armário, o nome mais incrível que eu já ouvi.
Às vezes me impressiono com a
criatividade das pessoas.
Enfim... Minhas duas semanas
passadas se resumiram a isso: uma viagem turbulenta e sinuosa entre a tristeza
e a felicidade, a descoberta e a solidão. Terminei o quadro de Kailee e agora
estou desenhando, estranhamente, minha mãe. Creio que nunca falei dela. Tenho
motivos para isso, mas, ao longo desses dias, estou começando a ter suspeitas
de meus pensamentos. De minhas certezas. O que sei sobre ela é que quando eu
nasci, ela me entregou ao meu pai e foi embora, sem explicações. Minha avó
falava que ela tinha sérios problemas, era louca, mas não sei em que acreditar.
Nos meus sonhos... Ela é tão
linda. Consigo, todas as vezes, ver seu rosto nitidamente, sentir seus afagos
calorosos num abraço, seus dedos brincarem com meus cabelos. É parecida comigo,
e talvez faça sentido, porque não me pareço com meu pai. Cabelos negros, a pele
alva e corada, olhos verde-claros, traços finos e uma graciosidade sem tamanho.
Meu pai é loiro, tão loiro que sua barba é da mesma cor de seus cabelos, suas
sobrancelhas, os pelos de seus braços. Pele branca também, olhos azuis, rosto
mais quadrado, nariz afilado e orelhas redondinhas. Não compreendo como eu sei
como ela é... Digo... Eu nunca a vi, certo? Não convivi com ela, não tenho
nenhuma lembrança de sua presença física, de um carinho, nada. Apenas o
onírico, subconsciente, e é isso que me deixa confuso. Acho que é apenas minha
mente me pregando peças.
Agora, estava voltando para casa
com Leah, Jimmy, Max e Kailee e Elijah. Tínhamos acabado de sair da praça,
todos rindo e tudo mais, animados. Leah parecia interessada demais em Max, não
sei... Ficava rindo e o olhando diferente. Não é como olha para mim. Não tem
esse olhar de pena... Lambi os lábios, sorrindo fraco para Kailee. Ela tinha
alisado meus ombros.
— Tchau gente. Obrigado por terem nos acompanhado.
— Imagine, Loguinho. – Elijah piscou e riu em seguida. —
Depois falaremos sobre os negócios, já está tarde para isso e, ah! – ele levou
o cigarro à boca, vi a fumaça sair em seguida. — Não esqueça, pelo amor das
pobres zebras, de me dar um quadro! Estou ansioso pelo meu retrato.
Ele fez um
bico e piscou várias vezes, outra pose com as mãos na cintura e jogou os
cabelos curtos para trás, com uma pose de diva que eu nunca conseguiria fazer. — Claro! Paciência, o pintor precisa de tempo para criar...
– comentei misterioso e rimos juntos. — Até mais!
Kailee me
deu um beijo no rosto, Jimmy e Max tocaram minha mão e Elijah deu um tapão na
minha bunda – já até me acostumei, sinceramente. Leah também os cumprimentou e
eu me senti enciumado pela forma que se despediu do ruivo... Com Kailee ela mal
trocou palavras. Entramos em casa e estranhei.
— Eliott?? – deixei o chapéu no mancebo e olhei Leah. — Você
o viu?
— Não...
Pedi para
que ela fosse ao meu quarto e fui procurar Eliott. Ele sempre está na porta
quando chego, sempre sabe a hora que eu irei chegar, é até macabro de se
pensar. Não estava na cozinha, nem o cheiro de chá que ali geralmente tem, na
sala também não... Fui percorrendo a casa até o último lugar ser o escritório
de meu pai e ali eu ouvi vozes.
— Como, como iremos contar a ele, Garrett? Logan é muito
sensível...
— Eu sei, Nancy... Eliott... – houve um silêncio — Como ele
estava durante a semana?
— Um tanto cabisbaixo, senhor. Quieto. Ao menos os colegas
dele estão o animando. A menina Neptunite principalmente.
— A filha de John Neptunite? Ótimo... – minha... avó? Meu
avô? Engoli seco. — Ao menos terá amparo, não sei como falaremos que Benji
faleceu s...
Eu parei de
ouvir o restante das palavras quando o cerne da informação chegou aos meus
ouvidos. Segurei a parede perto da porta do escritório, minha visão ficou turva
e senti meu estômago revirar com força. O gosto ácido veio sem cerimônias e
engoli, notando minha visão embaçada pelas gordas lágrimas que se formaram e
grunhi. Fechei os olhos, deixando-as cair, pintando minha face. Suspirei, vendo
minha imagem no espelho. Ele estava no móvel em que meu pai guardava suas
taças, como uma grande cristaleira e algumas gavetas abaixo do espelho
retangular. O olhar vazio, as olheiras de quem não dormiu bem há alguns dias,
um pouco mais magro do que já sou, as trilhas de lágrimas em minhas bochechas
coradas, além de meu nariz rubro, as maxilas travadas com tanta força que achei
que eu quebraria meus dentes.
Morreu.
Então...
sou órfão? É isso...?
É essa a
sensação de ser sozinho no mundo? Sem referências familiares?
Não tenho
irmãos, não tenho mãe e... agora não tenho mais um pai. Lambi os lábios
sentindo ódio da minha existência, desse sentimento amargo em meu peito, dor,
raiva, vazio. Meus lábios tremiam, minhas mãos... Eu chorava desenfreado, como
um rio perene em seu curso furioso. Aquela imagem no espelho não era eu. Não me
enxergava ali, só via um filho da puta fracassado que tinha acabado de perder a
única coisa que parecia fazer sentido na sua vida.
Obrigado pai por ser tão hipócrita ao ponto de morrer sem nem me dar um adeus antes.
Solucei e a primeira coisa que me veio a mente foi quebrar tudo a minha volta,
ver tudo tão destroçado quanto eu estava agora. O espelho se esmigalhou em meu
soco, o sangue espirrou no punho ferido pelos cacos e eu tinha o semblante mais
sério de todos. Ver-me naquela imagem rachada, quebrada, me representava e eu
desmanchei em prantos, gritando tão alto que até meus ouvidos doeram.
— Senhor Logan!
Empurrei o
móvel com força, as taças ali balançaram e uma das portas da cristaleira se abriu. Peguei
duas taças e senti-me ser abraçado, impedido.
— Senhor Logan, por favor, não faç-
Plaft!
Plaft! Joguei uma, joguei a outra, e os cacos voaram pelo chão.
— Logan!!!! Você enlouqueceu?! – era minha avó.
— Morreu, MORREU!
Esperneei
tentando me soltar do abraço dele e chorava, sentindo meu coração sair pela
boca, meu peito doer, minha mão direita pingar sangue e, céus, eu só queria morrer.
Não mereço essa porra de vida, essa dor dos infernos.
— ME SOLTA!
— Logan...?
O abraço
foi mais forte, me esmagando e eu gritei, gritei até ficar sem forças e aquele
aperto de víbora foi me enrolando no torax até eu não ter ar, vendo o padrão de
cores amarronzadas da pele fria de Elliot, ouvi o sibilar reptiliano em meu
ouvido e senti minhas costelas estralarem antes de eu apagar.
A última
imagem que tive foi de Leah me segurando o rosto, com aquela mesma expressão de
pena que eu odeio ver.
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Eu morri?
O branco
era a única coisa que via. Deitado no vazio leitoso, claro e até ofuscante...
Esfreguei os olhos, sentei, olhei para os lados e apenas o branco se fazia
presente. Rolei os olhos, entediado.
— Porra... Morrer é tão entediante assim?
Uma risada
gostosa veio aos meus ouvidos e olhei para trás, sorrindo sem perceber.
— Logan... É só um sonho, você não morreu.
— Preferia estar morto.
— Não diga isso... Ainda é jovem demais, há muito para se
viver.
— Não seja ingênua mãe, não tenho mais motivos para isso.
Ela se
aproximou, tão linda, com um vestido vermelho escarlate moldando seu corpo
belo. Os cabelos compridos remexiam com seu andar gracioso até mim, estava
descalça e tinha um sorriso caloroso em seus lábios pintados de vermelho. Os
olhos verdes transparecendo harmonia, calma, tudo o que eu precisava. Tem a aparência
tão jovem que sequer parece já ter tido filhos, não daria trinta anos para ela
nunca. Acho que nem tem trinta.
— Você será grandioso, meu menino. Não se abale, era a hora de
Benji ir... Também tive a minha e a sua não é agora.
“Benji....”
O abraço veio e eu desfaleci naquele toque divino. Ela me colocou em suas
pernas, afagou meus cabelos e meus olhos só sabiam chorar, esse inúteis.
Fechei-os, suspirei, era tão gostoso... Abri e, com amargor, não vi mais aquele
espaço branco, e sim meu quarto. Ergui as sobrancelhas.
— Desgraça...
— Logan?!
Leah me
virou com certa urgência e a olhei enfezado, que porra!
— Fiquei preocupada com você... Digo...
— Não precisa ter pena de mim. Minha vida sempre foi uma
merda, não é agora que deixará de ser.
Minha voz
foi dura, gelada e virei de volta, ficando de costas para ela. Leah ficou em
silêncio e senti o peso de seu corpo sumir da cama.
— O velório será daqui a pouco. Seus avós pediram para eu ir
com você...
— Vá se quiser. Não precisa ir porque eles pediram.
“Nem eu
quero ir para esta merda”. Respirei fundo. Levantei da cama, senti minha mão
doer e grunhi, a vendo enfaixada. Lógico, eu soquei o espelho. Rolei os olhos.
Minhas costelas também doíam, Eliott pegou pesado.
— Vou tomar banho.
— Tá... Será daqui uma hora.
— Foda-se...
xxx
O pôr-do-Sol
deu o ar da graça justamente agora. Que clichê, senhor Harrison. Você não
merece tamanha beleza celestial no seu enterro. Sempre achei incrível como o
céu conseguia ser uma obra de arte por si só e mesclar o cor-de-rosa com o
alaranjado junto do Sol. As nuvens também, fazendo parte dessa orquestra
crepuscular. Suspirei com uma sobrancelha erguida. Dessa vez não chorei como
todos ali faziam. Minha avó estava em prantos, até meu avô. Eliott também
estava ali, todos ao redor do caixão. Se vocês soubessem como esse cemitério
está lotado, cheio de cadeiras ocupadas por ricos, aurores, empresários, a
elite bruxa de Evgéneia. Até a Ministra da Magia veio. Pelo visto esse puto
Benji é importante. Acho que o único transformista ali é... Elliot, o mordomo.
Que nojo.
Prestaram
uma homenagem a ele. Os colegas de trabalho fizeram, o conselho de aurores igualmente.
“Benjamin foi um homem muito importante para esta nação, para esta cidade, nos
livrando das trevas e blá blá blá!”. Tive que cumprimentar todo mundo – até a
Ministra e seu filho, que era o único ali que parecia estar como eu, obrigado –,
receber abraços que não queria. Só tinha vontade de sumir, de me enfiar em
minha cama e esperar que eu me tornasse invisível. Agora todos sabem do filho
órfão de Benjamin, coitado dele. Pobrezinho!
Foram horas
naquele pranto coletivo, Leah foi para casa comigo e eu recebi um ultimato: moraria,
daqui em diante, na casa de meus queridíssimos avós, para não morar sozinho com
o mordomo. Imagine que vergonha seria o filho de Benjamin abandonado! Mal sabem
eles que eu sempre estive sozinho... Teria uma semana para arrumar o que eu
quisesse levar para me mudar. Mal posso esperar para a vida de tédio que terei.
— Não será tão ruim assim, Log. Seus avós são muito
queridos...
— Leah, pelo amor de Merlin...
Rolei os
olhos. Fitei o chão, estávamos caminhando de volta para casa. Já era de noite e
só tinha a iluminação da Lua para nos guiar. Meus avós me deixaram na esquina,
porque ainda tinham assuntos diplomáticos a tratar. Fomos eu, Leah e Eliott. O
mordomo permaneceu em silêncio, eu também não tinha mais nada para dizer. Foi
uma caminhada demorada, a casa de meu pai era a última, não sei porque raios
não nos deixaram na outra esquina. Eliott olhou para o lado, seus olhos ficaram
amarelos e eu o olhei.
— O que foi?
O arbusto
se remexeu e eu fui até ali, abaixei, enxergava nada. Peguei a varinha do bolso
do casaco e lambi os lábios.
— Lumos*... – a ponta da varinha se acendeu, iluminando tudo
à minha frente e uma raposinha filhote estava ali, amuada. Ganiu medrosa e se
enfiou ainda mais nos arbustos, mancando. — É uma raposa... – sorri de canto. —
Me ajude aqui, Eliott. Acho que está machucada.
— Sim senhor.
No final
das contas, estávamos em casa com a raposa. O senhor preparou água morna para
que eu a banhasse e Leah me ajudou, cuidamos do bichinho e descobri ser um macho.
A intenção era cuidar dele até quando conseguisse andar outra vez, mas no fundo
eu sabia que não conseguiria fazer isso. Secamo-la, deixei um cantinho de meu
quarto só para ele dormir e nisso tudo já havia esquecido os problemas que
tinha passado. Nunca tive um animalzinho comigo antes, só as corujas que
deixavam infinitas cartas..., mas elas sempre iam embora.
Ele ficou
deitado numa das almofadas do meu canto de inspiração, com um sorrisinho feliz.
— Chamarei de Tod.
— A raposa? O raposo, não sei.
— É.
— Então quer ficar com ele?
— Não é à toa ele ter surgido justo hoje... – sorri fraco,
engolindo a dor que veio em meu peito. Peguei a carteira de cigarro e tirei um
dali, o isqueiro também, e o acendi, tragando. Foi maravilhoso o alívio que
essa fumaça deliciosa me trouxe. — Um sai para dar lugar a outro, Leah.
— Entendo... Hm, Log, eu... Queria te perguntar uma coisa.
Olhei-a nos olhos. Não havia
reparado em como estava bonita hoje, não sei se foi o meu foda-se o mundo que
fez isso, mas isso não vem ao caso. Leah deu um sorrisinho malicioso e até
estremeci, sentindo algo esquentar em meu corpo.
— O-o que? – meu coração acelerou, que idiota...
— Faz um tempo que quero falar isso e acho que você nunca
tomou a iniciativa, então vou falar por você.
Franzi o cenho, corado. — Falar o que, Leah?
— Quer namorar comigo?
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Espero que tenham gostado! Eu particularmente adoro fazer o Logan, mas haja drama nesse menino, meu Deus! (risos).
Comentem, compartilhem, espalhem amor! Até a próxima postagem!
Um abraço, Gih Amorim <3