♥ Olá, pessoal! ♥
Segue mais um capítulo de My Dear Teacher. Espero que vocês gostem! E se leu até o fim, comente e compartilhe! Faz o coração da autora ficar mais quentinho. Obrigada desde já.
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04 ~ Os resquícios da tempestade
Ele me estende a mão e eu a
pego, levantando. Encaro-o, perdida. Está vestido com uma camiseta cinza com
uma estampa centralizada, num tema praiano, calça jeans clara dobrada na barra
e tênis, surpreendentemente, um all star preto, clássico. Deixou os cabelos
soltos, cheios, bem ondulados. “Ele veio na festa? Claro... Juliana e Ivan
disseram que ele era uma pessoa festeira...”
— Você precisa de ajuda? –
ele interrompe meus pensamentos.
Assenti, secando o rosto
melhor e lhe dei um sorriso sem humor. “Caramba, belo jeito para ele encontrar
a aluna. Quase bêbada, em prantos, com a cara inchada e vermelha”.
— Meu irmão... – olho para
baixo e engulo a saliva. — Preciso ir pra casa, mas eu não sei dirigir e meu
telefone descarregou.
O homem encara o corpo desacordado
de Diego no chão e abraço meu próprio corpo, um pouco desolada e envergonhada
pela situação em que me meti. “E pensar que eu acabei de apagar um cara com um
chute na cabeça”. Frederico ficou em silêncio, alisou a barba e me olhou em
seguida.
— Eu deixo vocês lá, tudo
bem?
Só concordei com a cabeça,
sem forças para pensar em outra solução. Minha cabeça doía sem dar trégua, ao
menos os pensamentos haviam sumido por ora. O evento foi um respiro nesse
afogamento de emoções oceânicas que tive. “Devo admitir que... se ele não
tivesse surgido, talvez eu surtasse de vez”.
Ele levantou meu irmão e o
apoiou em seu corpo facilmente, como se já tivesse feito isso algumas vezes.
Destranquei o carro outra vez e fomos na direção daquele que a luz piscou.
Assim que chegamos, o homem colocou Diego no banco de trás, deitado de lado, e
entreguei a chave para ele. Entramos no carro e coloco o cinto de segurança.
— Onde fica sua casa? – ele
dá partida no carro e me olha.
— No bairro das Amoreiras, no
centro-sul.
— Ok. Digita aqui no GPS.
Ele me dá seu telefone e
coloco meu endereço ali. Devolvo o aparelho e uno minhas mãos, numa falsa calma.
Estava realmente preocupada com Diego. “Como ele conseguiu os ingressos? Eu
sequer disse onde seria, e... Pelo visto, ele não apagou os contatos tóxicos,
como me disse que tinha feito”. Percebo que ambos ficamos em silêncio por uns
minutos e engulo seco, tentando não focar na dor que latejava forte.
— Vai ficar tudo bem,
Samantha. – encaro-o surpresa e ele parecia... preocupado.
Olho para ele com um meio sorriso
e nego, olhando para meu irmão no banco de trás.
— Tem um analgésico,
professor Laurent?
— Infelizmente, não. E pode
me chamar de Fred... Não estamos na universidade, se é que me entende.
Ele dá um sorriso e concordo,
rindo envergonhada. Finalmente, Frederico tira o carro do lugar e vamos até
minha casa. O caminho era longo, talvez levaríamos meia hora no trajeto, se o
trânsito permitisse. Liguei o som, deixei a rádio ligada e me escorei no canto,
me ajeitando. Fiquei de olhos fechados, as luzes pareciam facadas finas que
perfuravam a região ocular. Minha garganta doía, chorei muito, afinal.
Aos poucos, minha mente foi
se acalmando conforme o embalo do automóvel me envolvia e a música foi minha
distração. Tocava um MPB, tentei focar na batida da música, na voz da Marisa
Monte, e adormeci sem perceber. Despertei com uma mão tocando meu ombro. Minha
cabeça ainda doía, mas em menor quantidade. Parecia ter dormido horas a fio e
forcei os olhos, os esfregando e vendo o professor ali sentado, com o carro
desligado.
— Desculpe... Eu acabei
dormindo e...
— Não se preocupe, está
cansada. É essa casa?
Olho pela janela. — Sim, essa
mesmo. Obrigada, Fred.
Começo a tirar o cinto de
segurança e ele desce do carro rapidamente, dando um jeito de pegar Diego no
colo outra vez. Desci em seguida e fui ao lado dele.
— Não precisa... Eu levo ele
pra dentro. – ele o fez mesmo assim e fechou a porta do carro.
— Você não está em condições
de carregá-lo, Samantha. – sua seriedade me fez estremecer e fiquei em
silêncio.
Estava tudo escuro, dava para
ver apenas o espaço vazio da garagem e o portão todo azul. Fui até a entrada e
a abri, deixando que ele passasse primeiro. Ouvi o miado preguiçoso da minha
gata, Mione, e já senti seu corpinho peludo se enroscando em minhas pernas até
o caminho do primeiro interruptor de luz.
— Oi minha queridinha, já te
dou um carinho, tá bom?
Cerrei os olhos assim que
acendi, vendo a garagem vazia, dando direto para a porta. As paredes são brancas,
tinham alguns vasos com plantas bem cuidadas por ali. A porta de madeira clara
tinha o aviso bordado num círculo branco de tecido, com um buquê de flores
coloridas em baixo: Seja flor onde for.
Seja você sua própria luz.
Abri a porta para que ele
passasse e o homem foi me seguindo pela casa escura. Fui acendendo as luzes
conforme andávamos pela casa. Passamos pela sala e adentramos o corredor,
parando na segunda porta, o quarto de Diego. Ignorei a bagunça dele e,
inclusive, o cômodo fedia a essência de algo azedo. Abri as janelas e vi Frederico
deitando o rapaz na cama, o deixando de lado. Saímos do quarto em seguida.
— Muito obrigada, pro... Ahm,
Fred. – sorrio sem mostrar os dentes e, num instante, tenho um lapso de consciência.
— Caramba, você foi de carro pra festa? Como vai voltar pra lá?
Minha voz soava desesperada e
ele sorriu de canto, de um jeito até charmoso, e colocou uma mecha de cabelo
atrás da orelha.
— Calma... – ele ri fraco e
cruza os braços. — Eu fui de Uber.
— Ah... claro... – rio de mim
mesma e escoro na parede. — Quer alguma coisa? Água? Uma tomada, caso precise
carregar o celular?
— Eu aceito um copo de água.
Fomos até a cozinha e ouço o
miadinho, mas dessa vez era de fome. Nego com a cabeça e acendo a luz, vendo a
cozinha bagunçada. Diego cozinhou sei-lá-o-que e, provavelmente, trouxe amigos
aqui. Tinham três copos na mesa, um prato engordurado e uma garrafa de
refrigerante vazia. Suspirei e só empurrei a cadeira para que ele sentasse, já
recolhendo a bagunça do infeliz.
Tirando isso, dava para ver
que eu gosto de quadrinhos e plantas. Uma única parede verde-água dava cor ao
local predominantemente branco, onde os quadros estavam pendurados. Têm
tamanhos variados, com frases geeks ou de livros literários, desenhos, e tudo
combinava com os poucos móveis. Também, a horta suspensa tinha seu destaque.
Fica perto da janela, na parede oposta à colorida, com várias ervas aromáticas
em seus vasinhos. Um balcão separava a pia, o fogão e a geladeira da mesa de
jantar.
— Desculpe a bagunça... –
digo, vendo ele reparando no ambiente — Meu irmão é uma pessoa difícil.
— Tudo bem. Conheço bem gente
assim.
Ergui as sobrancelhas, mas
nada disse. Levei a louça suja para a pia e peguei um copo limpo, enchi-o de
água gelada e entreguei para o professor. Mione se enroscava nos pés dele,
esfregando seu rostinho na cadeira, na mesa e depois nele. É uma gata adulta,
de cor cinza rajada, de pelos curtos e olhos amarelos, a resgatei da rua há
alguns anos.
— Como é o nome dela?
— É Mione.
— Harry Potter... Certo. –
ele sorri de canto e a acaricia.
— É. – sorrio de volta e
procuro na gaveta algum analgésico.
— Bem, vou pedir minha
carona. – ele avisa e tomo o remédio, o vendo mexer no telefone e já vou em
direção à ração da esfomeada. — Acabei não perguntando... como é o nome do seu
irmão?
— É Diego. Ele... – respiro
fundo, colocando comida para a gata, sem ter visão do homem, estava atrás do
balcão. — É dependente químico. Se envolveu numa briga na festa e, bem, você
viu no que deu.
— Entendi. Sinto muito pelo o
que houve.
Ficamos num silêncio
constrangedor, ao menos para mim, e ele bebe a água tranquilo. Ele agia como se
tudo o que aconteceu fosse... normal, e eu estranhei, mas não iria
questioná-lo. Talvez ele devesse ajudar muita gente assim. Ou não. Mas, e daí?
Eu que estou me importando demais sem necessidade. Finalmente, sento ao lado
dele e o homem me encara.
— Você se sente melhor?
Retribuo o olhar por um
instante, me perdendo em sua íris de um verde-claro muito bonito. Concordo e
afago meu cabelo, dando um sorriso sem graça.
— Estou melhor. Agradeço
muito sua ajuda, se você não tivesse aparecido... – paro de falar e desvio o
olhar, num semblante sem expressão. — Eu não sei o que teria acontecido.
— Fico feliz, Samantha. – o
celular dele vibra, tomando sua atenção e ele se levanta. — Obrigada pela água
e pela conversa.
— É... Imagina, eu que
agradeço! – falo, meio embaraçada.
Levanto também e vou até a
porta, com a chave em mãos. Saímos pelo portão e logo um carro dobra a esquina.
Ele acena e o automóvel estaciona, o aguardando.
— Tenha uma boa noite,
descanse. Nos vemos segunda, Samantha. – ele pisca para mim e estremeço.
Dou um meio sorriso e estendo
minha mão para ele. Frederico me olha com um sorriso encantador e a aperta
firme, num afago que eu não acreditei que tive coragem de realizar.
— Obrigada por tudo, Fred.
Até segunda. – soltamos as mãos e completo a frase, meio desatenta. — Ahm,
tenha uma boa noite também. Tchau!
Ele sorri em resposta e entra
no carro. Logo ele se vai, vejo-o dobrar a esquina e só então percebo que meu
coração estava acelerado. Cocei a cabeça e suspirei.
— Que coisa mais imprevisível
acabou de acontecer, não é mesmo? – falo sozinha.
Entro em casa, me sentindo
exaurida, mas ainda tinha que cuidar do meu irmão. Ao menos minha cabeça estava
parando de doer. Fui até o banheiro. Peguei algodão, soro fisiológico e uma
pomada para hematomas, até que parei para me olhar no espelho. Minha maquiagem
estava toda borrada em um dos olhos.
— Que vergonha... – suspiro e
vou até quarto dele.
Sento em sua cama e Mione se
junta a mim, cheirando Diego pelos cantos. Molho um dos pedaços de algodão no
soro e limpo o sangue seco de seu rosto. Ele cheirava a bebida, além do odor
forte de essência dentro do quarto. A gata deitou na cama perto dos pés dele e
ficou ronronando ali.
— Ô meu benzinho... Você sabe
que o Di tá dodói, né?
Enchi os olhos de água e
respirei fundo, focando em não chorar de novo. Limpei todo o sangue e deu para
ver o corte perto da sobrancelha e o do lábio. O outro olho estava roxo e
levemente inchado. Passei um pouco da pomada ali e tentei massagear a região,
para impregnar o remédio em sua pele. Tirei a roupa dele, o deixando de cueca e
o cobri com o lençol.
— Durma bem, Di... Espero que
esteja melhor amanhã.
Saio do quarto com as coisas
em mãos cheias e vou direto ao banheiro. Entrei no chuveiro sem demora,
deixando a água morna me abraçar, me acalentar. Senti saudades de um colo, um
carinho. Meu semblante era triste, de olhar vazio. Lembrei das palavras
eufóricas de Juliana e ri irônica. “Realmente, foi uma das melhores noites da
minha vida”. Terminei o banho depois de longos minutos, me enfiei num pijama
confortável e dormi feito pedra, talvez por efeito do analgésico.
Abro a porta,
silenciosamente, vendo o apartamento escuro. Acendo a luz e me assusto,
colocando a mão no peito. Vejo Verônica de pijama, de braços e pernas cruzadas,
de sobrancelhas erguidas e com um sorrisinho faceiro.
— Olha só, não trouxe ninguém com
você. O que aconteceu? O feitiço falhou hoje?
— Isso são modos, Verônica?
Ela cai na risada e rolo os olhos,
fechando a porta. Tiro os tênis e a encaro sério.
— E isso é hora de estar acordada? Você
tem aula amanhã.
— Pai, hoje é domingo. Tá fora da
realidade mesmo, hein? Pelo visto a festa foi boa.
Suspiro enfezado e sento do lado dela.
— Foi boa sim, mas isso não é motivo pra estar acordada tão tarde. São duas da
manhã e você vai para a casa de seus avós.
— Ai, eu tava assistindo anime e quis
te dar um sustinho. Não posso? – ela ri e eu rio também.
Verônica tem 17 anos, mora comigo desde
os 10. É minha única filha, meu bem mais precioso desse mundo. É idêntica à sua
mãe, Vanessa, e isso me dói o coração. Pequena, magrinha, de pele branca – até
pálida, a menina não toma sol – e tem seus cabelos enormes tingidos todo mês, e
que se não o fossem, seriam loiros. Olhos verdes, como os meus, afinal ela
tinha que puxar algo da minha genética. Dessa vez, as cores atuais são roxo e
cor-de-rosa. Inicia roxo, no topo de sua cabeça, e faz um degradê até o
cor-de-rosa, bem forte. Não sei como seus fios aguentam tanta química, mas
enfim
— Que anime era?
— Fullmetal Alchemist, o Brotherhood, óbvio.
Mas, falando sério, o que aconteceu? Você parecia... preocupado quando abriu a
porta.
— Ah Vê... – me estico no sofá e a olho
— Uma aluna precisou de socorro.
— Meu Deus! O que houve? Sofreu um
acidente?
— Não. O irmão dela se envolveu numa
briga e ela não tinha como ir embora da festa e levá-lo. Acabei deixando ela em
sua casa. Ela parecia bem mal, chorava muito.
Ela ergue as sobrancelhas e cruza os
braços. — Coitada. Ainda bem que você ajudou ela, hein paizinho. E como ela se
chama? É da faculdade?
Verônica deita em meu colo e acaricio
seus cabelos coloridos. Suspiro, me acalmando, vendo a moça na minha mente e
sua feição triste.
— Samantha. Sim, é caloura inclusive.
E... Eu acho que já a vi em algum lugar, mas não sei onde.
— Certeza que vocês nunca ficaram? –
dou um peteleco em sua orelha e ela reclama de dor.
— Quem disse que eu fico com alunas,
Verônica?
— Ah pai, eu não sou boba. Eu já
conversei com algumas mulheres enquanto elas saíam daqui de manhã ou estavam
tomando água na cozinha, elas que disseram.
Respiro fundo e nego com a cabeça.
— Você é uma encrenqueira, isso sim. –
ela sorri sapeca e a olho sério. — Não, eu nunca fiquei com ela. Tem, sei lá,
uma semana que a conheço. Só que... não parece fazer só isso.
— Tem foto dela? Talvez eu lembre por
você.
— Não... Eu só sei que ela se chama
Samantha Borges. Quer saber? Deixa isso pra lá. Não é importante.
Levanto do sofá e me espreguiço.
Verônica levanta igualmente e boceja.
— É, acho que eu vou ir dormir. Boa
noite paizinho.
— Boa noite, minha flor.
Beijo sua testa e ela vai até seu
quarto. Caminho até a cozinha e pego um copo, o enchendo de água. “Seja flor
onde for...” Lembro da frase da porta da casa de Samantha e bebo o líquido. E
pensar que eu não terminei essa noite na cama com alguém é deveras
surpreendente.
Diria que foi completamente atípico,
além da coincidência singular reconhecer a mulher ali. Fazia uns minutos que
estava reparando nela e foi nítido notar que estava desesperada. Reconheci-a
assim que deixou seu irmão no chão, em prantos. Não intervi antes porque, se
fosse fazer isso com todos os meus alunos, eu não teria vida.
Respirei fundo e deixei o copo na pia,
a vendo cheia de louça. “Verônica... Tsc”. Caminhei até meu quarto e me despi.
Tomei um bom banho e me deitei em seguida, revigorado. A imagem da ruiva em
desespero surgiu em minha mente de novo e ajeitei a cabeça no travesseiro.
“Mania de professor se preocupar com aluno, cacete”. Fechei os olhos e me
forcei a dormir, ainda que preocupado com ela.
Acordei meio zonzo com a luz me
incomodando. Espreguicei-me e sentei na cama, com uma dor de cabeça chata,
fruto da bebida podre que esses universitários fazem. Levantei, fui até o
banheiro e, depois de utilizá-lo, fui à cozinha, dando de cara com minha filha
acordada, fazendo comida, cantando e dançando ao som de Tiago Iorc.
— Acordou inspirada hoje, Vê.
— Boa tarde, paizinho. Estou fazendo
omeletões com brócolis. Hein, a vovó desmarcou. Disse que tinha encomendas pra
entregar hoje e o vovô foi acompanhar ela.
— Ah é? Tudo bem então. Tem café? –
pergunto, aguado, e depois de ela confirmar, me sirvo da bebida.
— E, enquanto você dormia, eu procurei
a Samantha no insta e acho que a encontrei.
Encaro a menina, claramente surpreso. —
Você procurou?
— Claro! Me senti desafiada. – ela pisca
e sento à mesa.
Nosso apartamento é pequeno, o
suficiente para nós dois. Duas suítes, sala, cozinha, lavanderia e a sacada. A
cozinha é compartilhada com a sala, separada por uma meia parede de vidro. Tudo
simples, decorado em tons de amarelo. A mesa já estava posta, bem arrumada. Vê
estava com os cabelos presos e vestia um avental por cima de seu pijama de
bolinhas vermelhas.
— Aqui, ó. – ela traz a frigideira para
a mesa e já saca o celular. — O insta dela é @Samth.borges, se eu não estiver
errada.
Verônica me mostra a tela de seu
celular e mostra o possível perfil. Abre uma foto aleatória e concordo com a
cabeça, vendo Samantha na foto.
— É ela mesmo. Você é boa nisso, pode
enviar currículo para o FBI, detetive Laurent.
Ela gargalha e joga o cabelo para trás,
fazendo pose. É minha vez de rir e nos sirvo enquanto isso.
— Ela é linda, paizinho! Adorei a cor
do cabelo dela e a gatinha também, é muito fofiiinha. Por que a gente não tem
um gato?
Vê falava e ia me mostrando as fotos,
eufórica. Pelo pouco que vi, Samantha tem várias fotos sozinha, de sua gata, de
plantas, livros e paisagens. Todas com uma qualidade ótima, digna de máquina
fotográfica. "Esses celulares hoje em dia fazem de tudo..." E, devo
admitir, é uma bela mulher. Recordei-me do dia da biblioteca e dei um meio
sorriso divertido. Acho que me acostumei a perceber quando me olham, não foi
difícil notar que ela o fez também. Seu embaraço foi uma graça.
— E ela é jornalista, escreve umas
matérias muito boas, eu li algumas. E o melhor de tudo... me segue no insta! Já
amo a Sam, paizinho.
Eu só negava com a cabeça e fiquei
assustado com o quão fundo ela foi nessa espécie de investigação. É realmente
um monstro digital, stalker de primeira linha. Às vezes, tenho até medo
do que essa geração hi-tech é capaz
de fazer.
— Sam, é? – dou um risinho. — Nós não
podemos ter animais de estimação aqui, é contra as regras do condomínio. E,
sim, ela é bonita, não vou mentir... olha só, não sabia que ela é jornalista.
Ela dá um sorrisinho quando elogio a
mulher. — É! Ela é! Na verdade, ela usa um nome secreto..., mas eu descobri que
era ela pelo jeito que ela escreveu nas legendas das fotos, é bem parecido com
as matérias.
— Verônica... tenho medo dos seus
futuros namorados. E como assim nome secreto?
— Ai paizinho! Credo! – ela me dá um
tapa no ombro e rio travesso. — Um nome secreto, ué. Não é o nome dela, mas é
ela. Tipo...
— Um pseudônimo.
— É! É esse nome difícil aí. O pseu...
ah, você entendeu, é Flora Petterson. Além disso, a gente queria descobrir se a
conheço, não é? E não, eu nunca a vi na vida. Investigação concluída com
sucesso.
Ela gesticula ao falar e deixa o
celular de lado e começa a comer, claramente esfomeada.
— Obrigado, florzinha. Você foi genial.
– Verônica sorri em resposta e continua comendo. — Mas... por que ela te
seguiria no Instagram? – pergunto, curioso.
— Pai, eu sou influencer!
Provavelmente meu conteúdo interessa ela. Esse tom ruivo do cabelo dela é
tinta, e eu faço muita resenha de tonalizantes acobreados. Certeza que é por
isso.
— Perdão, ó influencer celestial. – brinco e ela me olha enfezada.
Não imaginava que fosse encontrar a
jovem na rede social só pelo nome, minha filha é admirável. Eu não consigo
fazer essas coisas nas redes sociais, sou uma negação. Depois do papo que tivemos, comemos em silêncio –
tirando o Tiago Iorc, cantando de fundo. Então... de onde conheço Samantha? Tem
algo diferente nessa mulher. Não sei se é sua personalidade, sua voz, ou só a
própria aparência física que me é familiar. Tentava puxar da memória situações
possíveis. Agora, sabendo que é jornalista, talvez ajudasse. Não obtive sucesso
em meus resquícios mentais, não conseguia me lembrar de nada em específico. É,
de fato, uma incógnita que eu adorarei desvendar.
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Chegamos ao fim de mais um capítulo.
Gostaram de conhecer um pouco da vida do Fred?
Comentem e compartilhem, galera!
Um abraço!