My Dear Teacher - Capítulo 07
segunda-feira, setembro 21, 2020♥ Olá, lindezas! ♥
Quem nos chamou é uma adolescente
muito bonita, pequena e que, além dos seus cabelos coloridos, suas roupas me
saltaram aos olhos. Um casaco tie-dye laranja neon, uma calça jeans clara e com
muitos rasgos e desfiados por toda a sua extensão. Calçava um tênis de marca e,
o que achei mais lindo foi o choker de couro preto com um pingente prateado de
lua crescente.
— Oi, desculpa incomodar... – ela
sorri simpática. — Eu achei a sua tatuagem muito bonita! Onde você fez?
— A do pescoço? – respondo,
segurando em minha nuca.
Sequer me lembrei de ela estar à
mostra. Tenho uma tatuagem das fases da lua na nuca,
bem pequena e delicada.
— Isso! Eu quero muito um tatuador
de traços finos, mas ninguém que eu conheço sabe indicar.
— Ah, foi no Lizard Tattoos. O Leonardo que me tatuou.
— Deixa eu anotar aqui.
Ela tira seu celular do bolso e
enquanto ela escrevia, senti que a conhecia de algum lugar.
— Prontinho. Muito obrigada!
— Você é aquela influenciadora,
não? A Vee Colors?
A jovem joga os cabelos
cor-de-rosa para trás e dá um sorrisinho. — Eu mesma! Você me segue no insta?
— Sim! Eu adoro seu conteúdo. Ju,
é ela que eu te falei que tem ótimas dicas de cuidados com o cabelo. Eu me
chamo Samantha, é um prazer te conhecer!
— Que legal! Eu preciso muito
melhorar meu cronograma capilar. Eu sou Juliana.
Ela sorriu de canto, num tom
faceiro. — Sou Verônica, mas pode me chamar de Vê. Vocês sabem onde fica a
lanchonete? Estou morrendo de fome e não sei andar por aqui.
— Claro, a gente te leva, Vê. – Ju
diz.
— Sim, é até perto daqui. –
complemento, achando um máximo conhecer essa menina.
Fomos até lá e pegamos salgados
para comer, pedi um café e nos sentamos numa mesa.
— Como são os instas de vocês? Pra
eu seguir aqui. Podem digitar.
Ela entrega o celular para mim,
depois para Juliana, que o devolve.
— E o que você faz na FacSP?
Pensei que tivesse na escola ainda. – pergunto.
— Ah, eu estou. É que meu pai
trabalha aqui. – ela olha o celular e dá uma mordida no salgado.
— É mesmo? Que legal. Eu nunca
pisei numa universidade até realmente ter passado no vestibular. – Ju comenta.
Senti um leve ardor no peito e bebi
o café. "Não posso dizer o mesmo de mim.".
— Ah, meu pai trabalha aqui há
muito tempo, mas acho que eu vim, sei lá, umas 3 vezes. Aqui é tão grande que
eu fico perdida, obrigada por me trazerem aqui.
Ela ri e Ju também. Dou um sorriso
de canto pensando um pouco na minha adolescência. Não foi nessa, mas eu já
passei muito tempo enfiada em bibliotecas da USP. Antes mesmo de aprofundar
meus pensamentos, vejo o professor Laurent se aproximando com uma cara não
muito boa. Franzo o cenho. “Ele veio atrás de mim? Será que eu esqueci de
entregar algum trabalho?”.
— Professor...
— Verônica, eu te procurei por
toda parte...! – ele pigarreia e nos olha com um sorriso. — Olá de novo,
Samantha, Juliana.
— Ai pai, é que eu fiquei com fome
e vim comer. Elas me trouxeram na lanchonete.
Ele ergueu uma sobrancelha, a
olhando sem entender. “Pai?”. Ju me encarou surpresa e eu não devo estar com
uma expressão diferente.
— É... professor... – Frederico
desvia o olhar para mim e estremeço por dentro. — Desculpe, eu não tinha ideia
que...
— Tudo bem, Samantha. Não precisa
se desculpar. – ele encara a menina e ela só come, mas sentia sua aura faceira.
— Estava te esperando para comermos juntos, Vê.
— Ah, senta aí, essas meninas são
suas alunas? Acho que elas não vão se importar, né? – ela morde outra vez.
Dava para sentir que ele estava um
pouco incomodado, só não conseguia saber o motivo. “Talvez por ele ter uma
filha e... bem, ele não parece ser casado atualmente”.
— É professor, senta aí. – Ju
chamou e eu engoli seco.
— Verônica... – me viro para ela e
sorrio de canto, gentil. — Acho melhor você ir com ele. Fico feliz em te
conhecer. Obrigada pela conversa!
— Ah... Tudo bem. – ela se levanta
e nos abraça. — Eu quem agradeço! Foi um prazer.
— Até mais. Até quarta-feira. – o
homem se despede e lança um olhar agradecido para mim.
Eles saem juntos e Ju segura meu
braço. Ela abre a boca e a tampa com a mão, numa face de extrema surpresa.
Juliana espera eles sumirem de vista e dá um gritinho.
— Samantha, ele tem uma filha!
— Sim...?
— Ele é meu professor há dois anos
e nunca mencionou isso.
— Ahm... – bebo o café. — Talvez
ele não quisesse que as pessoas soubessem, Ju. Você viu como ele ficou.
— Isso é óbvio. Ainda mais com a
má-fama dele, vai que isso é um empata foda?
Rio dela e nego com a cabeça. —
Bem... Isso é questionável, mas não deixa ser um direito dele, não é?
— Samantha?! – ela suspira e
gesticula. — Tá bom, me conta o que rolou naquela sala. Eu estou morreeendo de
curiosidade!
Gargalhamos juntas. — Eu entreguei
os trabalhos e ele perguntou se eu estava bem, se meu irmão estava bem. Talvez
ele tenha me pedido para entregar os trabalhos só por conta disso.
— Eu pensei isso na hora que você
voltou, garota. Ele se preocupou com você de verdade.
— Enfim... – termino o café. — Aí
eu agradeci e disse que ele não precisava se preocupar... Foi quando ele me deu
o telefone.
Ju apoiou o braço na mesa e ficou
me encarando com a cabeça apoiada em sua mão. Seu olhar era sonhador, admirado,
e eu fiquei a encarando de volta.
— Ah... – ela suspira. — Você é muito
sortuda...
Cruzo os braços e faço uma careta
de dúvida. — Não se engane. Ele deve fazer isso com todas, Ju. E ainda é
antiético.
— Deixa eu ter esperança, amiga! –
ela fala meio brava e aponta o dedo para mim. — Mesmo que seja só um casinho,
você merece se divertir. Viver uma aventura. Sair dessa gaiola e voar,
andorinha!
Rio dela. — Você é um amor, Ju.
— Verônica! Argh! – fecho a porta
atrás de mim.
— O que foi paizinho? – sua voz
coberta de falsa inocência me fez cerrar os olhos.
A menina sentou na cadeira e
deixou seu copo de suco em cima da mesa. Negava com a cabeça, impaciente.
Sentei também, à frente dela, e uni as mãos.
— Não haja como se o que aconteceu
ali não fosse obra sua.
— Mas não foi. Eu topei com elas
no corredor por acaso.
— Você disse que ia comprar os
salgados e não voltou mais. Além de falar que elas te levaram pra lanchonete,
como se nunca tivesse pisado aqui. Lá é onde você mais fica, filha!
— Bem, eu fui ao banheiro e vi a
Samantha. Nem acreditei. Vi que ela foi no seu corredor e só esperei ela
voltar. Ela veio aqui falar com você?
— Ela veio me entregar os
trabalhos da turma dela. Você a reconheceu das fotos?
Ela cruza os braços e sorri de
canto, travessa. — Eu disse que queria conhecê-la, e eu conheci.
— Por que não estou surpreso? –
comento e me desajeito na cadeira, massageando minhas têmporas. — Você tem
noção do que fez?
— Ahm... Não?
Suspiro. — Nenhum aluno meu sabe
da minha vida pessoal, Verônica. Eu não misturo isso aqui. Quem dirá com meus
colegas de trabalho.
— Tá bom paizinho, me desculpa,
mas eu não ia perder a chance de conversar com ela. – ela bebe o suco e
resmungo.
— E sobre o que vocês falaram?
— Eu, gentilmente, perguntei onde
ela fez uma das tatuagens dela. – Verônica gesticula. — E, como eu sabia que
ela me seguia, ela me reconheceu!
— Tatuagens? Você sabe as
tatuagens dela... Meu Deus. – suspiro. — E você não vai tatuar, já te falei. 20
anos pelo menos.
— Hunf. – ela me mostra a língua.
— Eu vi o feed dela quase todo.
Quando vi a tattoo, a oportunidade veio na faixa.
Sua animação me fez sorrir, afinal
ela conseguiu o que queria, mas ainda estava bravo. Não era para isso ter
acontecido. Suspiro e pego o salgado de sua mão, mordi-o e pedi para que ela
continuasse a falar com a mão livre.
— Pedi ajuda para elas e chegamos
na lanchonete. Ela perguntou por que eu estava na faculdade e eu falei que meu
pai trabalhava aqui. Eu nem falei seu nome, viu? Foi só isso, se você não tivesse
chegado lá, elas nem saberiam.
Ergo as sobrancelhas e cerro os
olhos em seguida. — Sinto muito se interrompi a conversa da princesa fujona. –
continuo a comer.
— And, by the way, a Sam é muito mais linda pessoalmente. E eu gostei
muito da amiga dela, achei estilosa. – ela assentiu e eu sorri de canto.
— E o que você quer dizer com
isso, Vê? – pergunto, num tom investigativo.
— Para de procurar entrelinhas no
que eu digo, paizinho. – ela cruza os braços, mas me olha faceira. — E você
sabe muito bem o que eu quero dizer.
— Sei, é?
Jogo o papel no lixo e pego o
suco, a olhando num semblante divertido. Ela faz uma careta tediosa e rola os
olhos. Se ajeita na cadeira e pega o suco de minhas mãos, bebendo em seguida.
— Ela não é como as mulheres que
você fica, pai. Você não pode ser um idiota com ela, tá me ouvindo?
— Ei! Olhe como fala comigo,
Verônica. – censuro e ela resmunga.
— Mas eu tô falando sério! Se você
fizer isso, eu não vou te perdoar.
— Filha? – respiro fundo. — Você
mal a conhece, nem eu a conheço. Por que está tomando decisões tão precipitadas
acerca disso? Ela é só uma aluna qualquer.
— Pai, eu não sou boba. E o perfil
de gente que você “gosta”... – ela faz aspas com os dedos. — Não é o dela. Não
pense com a cabeça de baixo.
Arregalo os olhos por ouvir tais
palavras e me levanto.
— Verônica, chega dessa conversa.
– fecho os olhos, irritado. — E isso não é jeito de se falar com seu pai.
— Não fique bravo, você sabe que é
verdade. E eu falo isso porque te amo.
Abri a boca para respondê-la,
entretanto, o som da porta abrindo me faz parar. Bianca passa pela porta,
entrando sem aviso. Sua blusa deixava os ombros desnudos, mostrando boa parte
de seu colo propositalmente, além do short curto. Ergo a sobrancelha, ficando
mais impaciente do que eu já estava. Verônica ficou estática, vidrada em mim.
— Por gentileza, você poderia
bater antes de entrar, Bianca?
— Eu nunca precisei bater antes. –
o sorriso malicioso dela me fez estreitar os olhos.
“Ela vai falar assim na frente de
Verônica?”.
— E o que você quer? – pergunto,
irritadiço.
— Nós temos aula particular ao
meio-dia. Se esqueceu, Fred?
“Sim. Eu esqueci completamente do
nosso horário particular. Inferno... Belo dia para eu precisar trazer Verônica
comigo na universidade.”. É um dos únicos horários da semana que atendo aos
desejos da mulher, que, antes eram meus, porém... As coisas ficaram
complicadas.
— Como pode perceber, eu estou
ocupado agora, Bianca. – digo sério.
Eu mal ouvia minha filha respirar.
“Não acredito que isso está acontecendo...”. Meus olhos expressavam minha raiva
acumulada pelo número de imprevistos num período curtíssimo de tempo e eu só
queria que ela fosse embora. E se tem algo que eu odeio são imprevistos. A
professora de Verônica passou mal e precisei a buscar na escola. Decidimos que
ela ficaria aqui e esperaria minhas aulas até irmos para casa, mas eu não gosto
de trazê-la aqui. E, para piorar, surge mais esse presente divino.
A mulher deu risada e cruzou os
braços.
— Pensei que nosso compromisso
fosse mais importante.
Fecho os olhos, grunhindo de
raiva. “Ela realmente está fazendo isso? Brincando com a minha paciência?”.
— Bianca, saia daqui. – falo num
tom sussurrado, claramente raivoso.
— Sair? – ela fala como se tivesse
a ofendendo e vejo minha filha se levantar.
— Por acaso você é surda? – arregalo
os olhos a ouvindo. — Ele te pediu para sair. Vaza, loirinha.
— Oi?! Fred?
Ela estende a mão para Verônica,
indignada. Me levanto, puxo Bianca pelo braço e a coloco para fora. Encaro a
garota de olhos cerrados e ela apenas rola os olhos, bebendo mais do suco. Levo
a mulher para fora da sala, um pouco distante da porta.
— Fred, quem é essa? Qual é o seu
problema?
— Bianca, ela é minha filha. Você
já a viu na minha casa, não se recorda? – falo nervoso e cerro os punhos. — Não
vou poder fazer o que você quer agora. Vá embora.
— Não minta pra mim. Eu nunca vi
essa garota na vida.
— Bianca, não me perturbe mais do
que já estou. Vai logo, depois a gente conversa.
— Você não tem o direito de fazer
isso comigo. – ela fala exaltada e aponta o dedo em meu peito. — Ficou olhando
outras meninas na festa na minha cara, não me escolheu hoje na aula e agora
isso?! – sua voz soava esganiçada e conseguia ser irritante. — Você acha que eu
não vi seus olhos correndo pra uma mulher de meia-arrastão branca ontem?
“Ela percebeu? Que olho biônico...
E eu não esperava ver Samantha ontem, dado como a deixei em casa.”. A encaro,
processando suas frases e incrédulo com o que ouvia.
— Direito?! – tiro sua mão de mim
e me afasto dela, a encarando perplexo com sua infantilidade. — Você está dando
o maior show na frente da minha filha e vem me falar de direito? Não seja
prepotente a esse p...
— Show? – ela me interrompe e
cruza os braços. — Fred, nós temos um compromisso!
Suas palavras me fazem rir irônico
e nego com a cabeça, perto de surtar de raiva. “Que tipo de pessoa se incomoda se
eu não a “escolho” para recolher atividades? E o pior, por eu estar na presença
de outra mulher e ela ser minha filha?!”.
— Bianca, não temos nada. Nós somos
nada. Eu preciso desenhar isso pra você?
Gesticulava, enraivecido, tentando
me controlar para não ser mais grosso que isso. Ela fica em silêncio e me olha
séria.
— A gente usar sua sala de motel particular
toda segunda e sexta significa nada pra você?
Bufo de raiva e paro na frente da
porta. Meu olhar era mortal.
— Isso mesmo. Significa nada. – os
olhos dela estavam marejados. — Não me procure mais. E eu vou fingir que você
não existe.
Entro na sala e fecho a porta, lhe
dando as costas. Ouço Bianca esmurrar a madeira e me chamar de canalha. Fecho
os olhos com força. Solto o ar pesadamente. Fiquei espantado e extremamente
nervoso com o que acabou de acontecer aqui. “Mas que porra de mulher é essa?
Sentindo ciúmes de algo que nem existe?!”. Sinto uma mãozinha tocar meu rosto
delicada. Vejo Verônica com uma face entristecida e ela me abraça em seguida.
Me desarmo diante de seu carinho e a retribuo, sentindo um vazio no peito.
Bianca não é a única mulher que me
relaciono, mas é a mais recorrente. Ontem mesmo nós ficamos, mas não esperava
que ela fosse se tornar tão obsessiva em tão pouco tempo. Nós ficamos há mais
ou menos um mês. E, bem, queria “oficializar” algo que não se passa de uma foda
qualquer.
— Não querendo ser chata... Mas
era disso que eu falava, paizinho.
Paro para olhá-la e franzo o
cenho, tentando entender do que se trata.
— Olha o tipo de pessoa que você
atrai pra si... Uma menina muito bonita, só que é prepotente, mal-educada...
Talvez interesseira. – Verônica completa e se solta do abraço, segurando meu
rosto com suas duas mãos. — Você precisa rever seus relacionamentos, pai.
Precisa se amar mais... Você não merece isso.
Suas palavras pareceram punhais me
perfurando as costelas. Como uma menina de 17 anos consegue verbalizar meus
problemas de quase uma vida toda? Verônica tem um senso de curiosidade tão
grande, de explorar o desconhecido, se desfiar, mas essa é nova. Nós nunca
falamos sobre isso. Ou, ao menos, eu nunca dei brechas para tal. Lambi os
lábios e a encarei nos olhos por alguns minutos. Sentia a garganta seca, como
se eu tivesse corrido uma maratona. “Como pode se parecer tanto com ela?”. Fecho
os olhos, tentado não pensar em Cecília, mas é impossível.
— Eu sei que... ainda dói.
Ela deita sua cabeça em meu peito
e afago seu braço, a aninhando ali. Verônica me envolve num abraço e ali fica.
Um silêncio se instaura entre nós e eu não tive coragem de abrir a boca. A
sensação de solidão é terrível.
— Em mim também dói, paizinho. –
ela diz. — Mas a mãe não vai voltar. Você precisa superar ela.
— Vê... Vamos pra casa.
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Chegamos ao fim de mais um capítulo.
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